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A Parábola do Rico e do Lázaro Ensina Vida Após a Morte?

A Parábola do Rico e do Lázaro

Conteúdo

Introdução

Jesus Cristo ensinou muitas coisas por meio de parábolas. Uma dessas parábolas é conhecida como a “Parábola do Rico e do Lázaro“. Com base nela, muitos acabam a utilizando como base e fundamento para defenderem a doutrina da “imortalidade da alma” e vida após à morte do ser humano, e isso acontece por interpretarem a parábola de forma literal. No estudo de hoje, iremos aprender mais sobre o que é uma parábola, suas definições, como devemos interpretá-las, o seu propósito, e por fim, analisaremos a parábola do Rico e do Lázaro com a finalidade de extrair a correta interpretação sobre ela.

Definição de “parábola

Vamos começar pela definição da palavra “parábola“. Qual o seu significado? Como os dicionários a definem?

Segundo a definição encontrada em alguns dicionários:

Michaelis:Narrativa alegórica que tem por objetivo transmitir uma mensagem de maneira indireta, usando como recurso a analogia ou a comparação.” – Dicionário Michaelis, acessado em 30 de outubro de 2020 (link: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/par%C3%A1bola).

Priberam:Narração alegórica que envolve algum preceito de moral, alguma verdade importante.” – Dicionário Priberam, acesso em 30 de outubro de 2020 (link: https://dicionario.priberam.org/par%C3%A1bola)

E o que seria uma alegoria (“narração alegórica”)?

Michaelis:Forma ou técnica de representação figurada do mundo abstrato ou imaginário, utilizada no âmbito artístico e intelectual, por meio de imagens, figuras, pessoas, ideias ou qualidades abstratas, de modo que tais elementos funcionem como disfarce das ideias apresentadas.” – Dicionário Michaelis, acessado em 30 de outubro de 2020 (link: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/alegoria).

Parábolas devem ser compreendidas de forma literal?

Será que devemos compreender as parábolas de forma literal? Poderíamos fazer as seguintes perguntas:

  1. Realmente existiu um pastor que saiu com 100 ovelhas, e ao perder uma delas, deixou as 99 para buscar a que se perdeu (Lucas 15)?
  2. A história do filho pródigo realmente aconteceu (Lucas 15)?
  3. Existiu uma mulher que perdeu uma moeda das dez que possuía, e ao encontrá-la chamou as amigas e vizinhas para se alegrarem (Lucas 15)?
  4. Será que a história do Rico e do Lázaro de fato aconteceu (Lucas 16)?
  5. Houve uma viúva persistente que infortunou a um juiz à pedido de justiça e o mesmo cedeu por conta de sua insistência (Lucas 18)?
  6. E sobre o dono de uma terra que partiu, dividiu suas riquezas com seus criados e, ao retornar, cobrou deles a multiplicação do que lhes havia confiado (Lucas 19)?

Mencionei apenas algumas parábolas narradas por Jesus, mas o mestre utilizou-se de pelo menos 44 parábolas em seus ensinos (considerando as que estão escritas nos evangelhos). As histórias apresentadas nessas parábolas não são fatos que ocorreram, pois se assim o fossem, não seriam “parábolas“, mas sim relato de “fatos” ocorridos. Não estou querendo afirmar que histórias semelhantes à essas não tenham ocorrido. Não é improvável que alguém tenha criado uma parábola baseada em um acontecimento real. Mas em grande parte, uma parábola surge com base em acontecimentos, ideias e pensamentos de fatos semelhantes ao cotidiano dos seus ouvintes. Pessoas as adaptam com acréscimos ou decréscimos de informações, permitindo que se ajustem às lições ou mensagens que desejam transmitir aos ouvintes.

Jesus utilizou de parábolas para ensinar muitas lições preciosas aos seus ouvintes. Em cada situação, utilizava-se de uma parábola para transmitir os seus ensinamentos. Apesar de ter utilizado muitas parábolas, o registro delas não é exclusivo de Jesus. Nas Escrituras, podemos encontrar outras parábolas que pessoas no passado utilizaram, como, por exemplo:

A Parábola à Jotão:

E,  dizendo-o a Jotão, foi e pôs-se no cume do monte de Gerizim, e levantou  a sua voz, e clamou e disse-lhes: Ouvi-me, cidadãos de Siquém, e Deus  vos ouvirá a vós; Foram uma vez as árvores a ungir para si um rei, e disseram à oliveira: Reina tu sobre nós. Porém a oliveira lhes disse: Deixaria eu a minha gordura, que Deus e os homens em mim prezam, e iria pairar sobre as árvores? Então disseram as árvores à figueira: Vem tu, e reina sobre nós. Porém a figueira lhes disse: Deixaria eu a minha doçura, o meu bom fruto, e iria pairar sobre as árvores? Então disseram as árvores à videira: Vem tu, e reina sobre nós. Porém a videira lhes disse: Deixaria eu o meu mosto, que alegra a Deus e aos homens, e iria pairar sobre as árvores? Então todas as árvores disseram ao espinheiro: Vem tu, e reina sobre nós. E  disse o espinheiro às árvores: Se, na verdade, me ungis por rei sobre  vós, vinde, e confiai-vos debaixo da minha sombra; mas, se não, saia  fogo do espinheiro que consuma os cedros do Líbano.” – Juízes 9:7-15

A Parábola da Vinha de Israel:

Agora cantarei ao meu amado o cântico do meu querido a respeito da sua vinha. O meu amado tem uma vinha num outeiro fértil. E  cercou-a, elimpando-a das pedras, plantou-a de excelentes vides; e  edificou no meio dela uma torre, e também construiu nela um lagar; e  esperava que desse uvas boas, porém deu uvas bravas. Agora, pois, ó moradores de Jerusalém, e homens de Judá, julgai, vos peço, entre mim e a minha vinha. Que  mais se podia fazer à minha vinha, que eu lhe não tenha feito? Por que,  esperando eu que desse uvas boas, veio a dar uvas bravas? Agora,  pois, vos farei saber o que eu hei de fazer à minha vinha: tirarei a sua  sebe, para que sirva de pasto; derrubarei a sua parede, para que seja  pisada; E a tornarei em deserto; não será podada nem cavada; porém  crescerão nela sarças e espinheiros; e às nuvens darei ordem que não derramem chuva sobre ela. Porque a vinha do Senhor dos Exércitos é a  casa de Israel, e os homens de Judá são a planta das suas delícias; e  esperou que exercesse juízo, e eis aqui opressão; justiça, e eis aqui clamor.” – Isaías 5:1-7

Ambas as parábolas mencionadas acima foram ditas por pessoas em tempos remotos, séculos antes do nascimento de Jesus. Os profetas utilizaram de parábolas para transmitir suas mensagens. As pessoas não costumavam usá-las com tanta frequência como Jesus fez, mas ainda assim as utilizavam para transmitir lições e mensagens ao povo de sua época.

Características das Parábolas

Perceba que na parábola à Jotão, as árvores pedem um rei para si. Elas conversam entre si em busca de outra árvore que possa governá-las. Perguntam à oliveira, depois à figueira, e depois à videira, mas todas elas negam o pedido, até que todas as árvores resolvem perguntar ao espinheiro se ele deseja se tornar rei, o qual acaba aceitando o pedido. Porém, o espinheiro adverte que fogo poderia sair dele e consumir todos os cedros do Líbano em caso dessas árvores não confiarem em sua sombra.

Já na parábola da vinha de Israel, alguém narra a história do “amado“, que plantou uma vinha e cuidou dela, mas as uvas que nasceram não foram boas, e sim uvas bravas. Diante dessa parábola, Deus questiona por meio do profeta ao Seu povo o que Ele deveria fazer em relação à sua vinha. Diante da pergunta, Ele mesmo responde o que fará. Destruirá toda a sua vinha, pois os frutos produzidos não foram o esperado por Ele. Em seguida, Ele aplica a lição da parábola sobre o comportamento de seu povo Israel e Judá.

Em ambos os casos, as parábolas introduzem elementos reais e conhecido do povo em sua época. Todos conheciam sobre árvores, oliveiras, figueiras, videiras e espinheiros. Mas alguém adiciona um elemento à parábola, que é a “vida” nessas árvores. Elas começam a dialogar e conversar entre si, e até procuram uma árvore que se torne rei sobre elas e possa governá-las! Essa ideia de realidade modificada também aparece na parábola da vinha de Israel. Era normal o povo cultivar vinhas. Porém, alguém acrescenta à parábola a destruição de um “outeiro fértil” por causa do nascimento de “uvas bravas“, para transmitir uma determinada mensagem ao povo e permitir que eles a compreendam.

Sugestão de Leitura: O Ladrão na Cruz Foi para o Céu Após a Sua Morte? Leia Mais:

Advertência por Meio da Parábola

O próprio Deus apresentou o motivo que traria juízo à casa de Israel e de Judá. E para que o povo compreendessem esse motivo, ele o apresentou em forma de parábola. Ele mostrou que uma vinha que só produziu frutos ruins deveria ser destruída e, com isso, fez um paralelo com o seu povo.

Perceba que existem elementos reais e não reais dentro de uma parábola! As pessoas construíram essas parábolas com base em fatos reais, mas as adaptaram com características irreais para possibilitar um ensinamento a ser transmitido.

Considerando isso, prosseguiremos para o próximo tópico do estudo, o uso de elementos das parábolas como base doutrinária.

Doutrinas e Parábolas

Considerando a definição dos termos “parábola” e “alegoria“, que aprendemos no tópico anterior, percebemos que as parábolas não devem ser compreendidas de forma literal. Isso ficou evidente com a leitura das duas parábolas no tópico anterior. Árvores não possuem vidas como os seres humanos, e também não necessitam que outra árvore governe sobre elas. Outeiros férteis não geram uvas bravas.

As palavras utilizadas na narrativa de uma parábola não devem ser base para doutrinas e crenças religiosas, mas o seu uso deve ser compreendido diante do todo apresentado e narrado, procurando extrair as lições essenciais que o locutor está tentando transmitir. Também é importante compreendermos o contexto das parábolas, pois, em muitas ocasiões, os narradores as apresentam dentro de um cenário vivenciado por seus ouvintes.

Os narradores podem construir uma parábola com base em uma história verídica, inverídica ou até mesmo em crenças populares, pois o conteúdo dela não é o mais importante, mas sim os ensinamentos que desejam transmitir.

Nascemos e crescemos ouvindo histórias inverídicas com a finalidade de aprendermos lições sobre elas. Muitas pessoas apresentam essas histórias para crianças. Quem nunca ouviu uma história, fábula ou conto infantil quando era pequeno? Na maior parte das vezes, apesar de não serem reais, possuem um fundo de aprendizagem para àqueles que ouvem. O mesmo acontece com as parábolas, apesar de que elas estão mais focadas na transmissão e no aprendizado de lições essenciais do que os contos, fábulas e histórias que costumamos ouvir.

Por esse motivo, ninguém deve usar uma parábola como base doutrinária ou crença religiosa. Sua finalidade é exclusivamente à transmissão de lições e ensinamentos aos seus ouvintes.

Análise da Parábola do Rico e do Lázaro

Agora, faremos uma análise da parábola do Rico e do Lázaro, contada por Jesus. A mesma se encontra descrita em Lucas 16:19-31. Após a leitura, identificaremos e analisaremos os elementos presentes no texto, bem como o contexto em que a mensagem foi transmitida para melhor compreendê-la.

19. Ora, havia um homem rico, e vestia-se de púrpura e de linho finíssimo, e vivia todos os dias regalada e esplendidamente.

20. Havia também um certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta daquele;

21. E desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham lamber-lhe as chagas.

22. E aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado.

23. E no inferno, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio.

24. E,  clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro,  que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama.

25. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te  de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e  agora este é consolado e tu atormentado.

26. E, além disso, está posto um  grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar  daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá passar para cá.

27. E disse ele: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai,

28. Pois tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento.

29. Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos.

30. E disse ele: Não, pai Abraão; mas, se algum dentre os mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam.

31. Porém, Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite.” – Lucas 16:19-31

Resumindo a Parábola Acima

O resumo da parábola é praticamente o seguinte: Existia um homem rico que vivia em regalia, e à porta da sua casa, outro homem pobre e sofredor, chamado Lázaro. Ambos morreram. As pessoas levaram o Rico para o “inferno“, um lugar de tormento com fogo, e levaram Lázaro ao “seio de Abraão“. O homem Rico estava em sofrimento no inferno, e de longe viu Abraão e a Lázaro em seu “seio“. Pediu para que Abraão enviasse Lázaro para que molhasse o seu dedo um um pouco de água e desse ao Rico para que refrescasse um pouco a sua língua. Diante disso, Abraão nega-lhe o pedido, e explica que em vida ele teve tudo de bom, enquanto que Lázaro foi o sofredor.

Além disso, explica que mesmo se o fizesse, não seria possível, pois existia um “grande abismo” entre eles, o qual separava um lugar do outro. O homem Rico faz-lhe um segundo pedido, que então o envie à casa de seu pai, pois ele tinha outros 5 irmãos e queria adverti-lhes para que não fossem para onde estava. Abraão lhe responde que eles possuíam os escritos de Moisés e dos profetas, e tais escritos já seriam suficiente como advertência. Disse ainda mais, que se não dessem ouvidos aos escritos, muito menos daria ouvido se Lázaro ressuscitasse.

Pontos a Serem Considerados

Não sei se você percebeu, mas se fôssemos interpretar a Parábola do Rico e do Lázaro de forma literal, teríamos que considerar no mínimo o seguinte:

  1. A existência de um “inferno” como sendo um lugar de tormento eterno. Os injustos são levados ao “inferno” para sofrerem eternamente nesse lugar.
  2. Os justos salvos, como o caso de Lázaro, são levados ao “seio de Abraão“.
  3. O Rico ainda se lembrava de seus familiares e de sua vida na terra, pois desejou que os seus irmãos fossem advertidos.
  4. O lugar onde Abraão e Lázaro se encontravam era próximo ao “inferno“, ainda que esse fosse separado por um “grande abismo“.
  5. O Rico e o Lázaro possuíam corpos como de seres humanos.

Conforme mencionado anteriormente, a interpretação de forma literal nos leva a considerarmos pelo menos os detalhes mencionados acima. Porém, ao fazermos desta forma, caímos em diversos problemas e contradições escriturísticas. Vamos repassar e comentar cada um dos itens apresentados acima.

Análise dos Problemas e Contradições da Parábola

1. A existência de um “inferno” como sendo um lugar de tormento eterno. Os injustos são levados ao “inferno” para sofrerem eternamente nesse lugar.

A ideia de uma lugar chamado de “inferno” onde os injustos sofrem eternamente, não advém da Bíblia, mas das crenças pagãs. A palavra “inferno” no grego é “hades“, e biblicamente significa literalmente “sepultura“, local para onde os mortos vão. Porém, na mitologia grega, o “hades” é o deus do submundo, um lugar de tormento e sofrimento eterno para onde os mortos vão.

A Grécia foi a maior potência mundial que governou o mundo antigo antes de Roma. Suas crenças e ideias se espalharam para diferentes povos, inclusive influenciou às crenças judaicas referente ao conceito do espírito e alma do homem. A crença de um juízo logo após à morte do homem era comum e conhecida entre os judeus na época de Cristo. Por esse motivo, a parábola utilizou-se das crendices populares da época, mas não que estes fatos fossem coerentes com as doutrinas e crenças bíblicas.

De fato, existem semelhanças entre a parábola e os ensinamentos bíblicos, tais como o juízo do homem que todos passarão após à morte, a recompensa e a condenação por nossas escolhas e obras que fizemos durante o tempo de vida nessa terra, mas o momento desse juízo e o período de duração que ocorrem diferem entre as crenças gregas e a bíblica. Enquanto uma prega o juízo logo em seguida à morte, a Bíblia o apresenta somente após o milênio em que Jesus voltar à este mundo, assim também como o tempo de duração do juízo, o qual não será eterno, mas terá um final após todo o mal ser consumido pelo juízo de fogo (sobre esse tema, abordaremos em outro estudo).

A ideia de um lugar onde haverá sofrimento para todo sempre é contradizente com a natureza de um Deus de amor. De fato, todos receberemos os juízos de Deus, mas ninguém sofrerá eternamente pelos pecados cometidos.

Apocalipse 21:4 – “E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas.

Após o milênio, os ímpios serão ressuscitados para receberem o juízo, e o mesmo será executado. Após isso, novos céus e novas terras serão recriados, e a promessa de Deus é de que “não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor“. Ora, se não haverá mais pranto, nem clamor e nem dor, obviamente todo o sofrimento foi extinto. É impossível existir um local de “tormento eterno” levando em consideração que a promessa de Deus nos diz que “não haverá mais” sofrimento. Essa contradição deixa evidente que não podemos utilizar a ideologia apresentada na parábola como fundamento de uma crença bíblica doutrinária.

2. Os justos salvos, como o caso de Lázaro, são levados ao “seio de Abraão“.

Da mesma forma que as pessoas viam o “inferno” como local para onde os ímpios eram levados logo após a morte, na crendice popular da época, os justos eram levados ao “seio de Abraão“. Mas onde estaria Abraão? Certamente seria no céu (segundo a doutrina da imortalidade da alma). Por outro lado, com esse conceito, o qual os justos recebem a recompensa eterna logo após à morte, também não possui fundamento bíblico. Vejamos alguns casos de justos para quem a recompensa foi prometida somente no tempo do fim, quando Jesus retornar:

Atos 2:29,34 – “Homens irmãos, seja-me lícito dizer-vos livremente acerca do patriarca Davi, que ele morreu e foi sepultado, e entre nós está até hoje a sua sepultura. … Porque Davi não subiu aos céus, mas ele próprio diz: Disse o Senhor ao meu Senhor:Assenta-te à minha direita…

O apóstolo Pedro declarou explicitamente que o profeta e rei Davi não subiu aos céus após à sua morte e que a sua sepultura se encontra conosco até o tempo de hoje! Ninguém discordará que Davi cometeu graves pecados e que se arrependeu deles. Portanto, pelos méritos de Cristo, reconsideraram-no como justo e ele será digno da salvação.

Daniel 12:13 – “Tu, porém, vai até ao fim; porque descansarás, e te levantarás na tua herança, no fim dos dias.

Ao profeta Daniel, também prometeram receber a herança dos justos, mas isso só ocorreria no fim dos dias, e não logo após sua morte.

O mesmo foi dito sobre todos aqueles que morreram na fé, conforme os hebreus descrevem.

Hebreus 11:39 – “E todos estes, tendo tido testemunho pela fé, não alcançaram a promessa

Todos os justos descritos no capítulo 11 aos Hebreus, deram testemunho da fé, sendo todos eles considerados filhos do pai da fé (Abraão), e mesmo assim não alcançaram a promessa! Quando darão a promessa da herança aos justos? Eles receberão a herança dos justos somente no dia da ressurreição descrita em I Tessalonicenses 4:14-18.

1 Tessalonicenses 4:16 – “Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro.

Sugestão de Leitura: Existe uma Entidade Espiritual na Criação ou na Morte do Homem? Leia Mais:

3. O Rico ainda se lembrava de seus familiares e de sua vida na terra, pois desejou que os seus irmãos fossem advertidos.

Na Parábola do Rico e do Lázaro narrada por Jesus, o Rico se lembrava de seus familiares e desejava que eles fossem advertidos. Essa descrição também contradiz o que foi ensinado sobre o estado dos mortos. Vejamos o que o sábio Salomão escreveu:

Eclesiastes 9:5-6 – “Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco terão eles recompensa, mas a sua memória fica entregue ao esquecimento. Também o seu amor, o seu ódio, e a sua inveja já pereceram, e já não têm parte alguma para sempre, em coisa alguma do que se faz debaixo do sol.

Perceba que Salomão explica que “os mortos não sabem coisa nenhuma” e que “a sua memória fica entregue ao esquecimento“. Se os mortos não sabem de coisa nenhuma, e se a suas memórias ficaram entregues ao esquecimento, como poderia o Rico da parábola lembrar que tinha 5 irmãos na terra?! Perceba que é claro o que foi dito por Salomão! Àqueles que morreram não sabem mais de coisa alguma, e tudo foi esquecido por eles, mas na parábola o Rico ainda tinha lembranças de seus familiares!

Além disso, o Rico da parábola também demonstrou preocupação e sentimento em prol de seus familiares. Ele não queria que os seus irmãos viessem para o mesmo lugar onde ele se encontrava, e queria que Abraão enviasse Lázaro para os advertir quanto ao modo de vida que estavam tendo. Essa descrição só nos mostra que o Rico ainda tinha sentimentos e demonstrava amor por seus irmãos. Porém, essa descrição também contradiz o que o sábio Salomão explicou, ao dizer que os sentimentos dos mortos já pereceram, tais como “o seu amor, o seu ódio, e a sua inveja.

Sugestão de Leitura: Os Mortos Lembram ou Sabem das Coisas desta Vida? Leia Mais:

4. O lugar onde Abraão e Lázaro se encontravam era próximo ao “inferno“, ainda que esse fosse separado por um “grande abismo“.

Apesar de existir um “grande abismo” que separasse Abraão e o Rico na Parábola do Rico e do Lázaro, ambos conseguiam conversar normalmente. Ora, se o céu era o lugar onde Abraão se encontrava, é muito estranho a ideia de que o “inferno” de tormento eterno se encontre bem próximo ao céu, sendo praticamente vizinhos!

A ideia ainda se torna pior quando pensamos sobre a possibilidade dos justos poderem ver e conversar com pessoas que estão presentes no inferno. Se assim fosse verdade, como poderiam viver em paz os justos salvos no céu, sabendo, vendo e ouvindo que os seus entes queridos estão sofrendo e agonizando no “bairro vizinho“? Como se sentiriam no lugar de Lázaro quando lhe pedissem um pouco de água para refrescarem a língua? Haveria felicidade no céu com um “inferno” bem ao lado, onde fosse possível conversar e dialogar com àqueles sofredores eternamente?! Diante disso, imagino que o coração dos justos se tornaria um inferno de agonia!

Além dessas ideias contraditórias e bizarras que a compreensão literal da parábola trás, temos também a ideia da possibilidade entre duas pessoas poderem conversar tendo um abismo entre elas. Atualmente, já é difícil escutar alguém falando à uma distância de 10 metros da gente, talvez, em gritos poderíamos escutá-la à um pouco mais de 50 metros, mas na parábola a distância mencionada é de um “grande abismo“! Isso só é possível mesmo em uma história de parábola!

5. O Rico e o Lázaro possuíam corpos como de seres humanos.

Apesar de a parábola não afirmar explicitamente que eles possuíam corpos, fica evidente de forma implícita que, na parábola, os mortos possuem corpos de seres humanos, pois foram apresentados como tendo olhos, dedos, línguas e boca. Considere ainda a dependência dos demais membros do corpo para cada um desses mencionados. Por exemplo, para ter língua é necessário ter uma boca, para ter boca e olhos é necessário ter um rosto, para ter um rosto é necessário ter uma cabeça, para ter uma cabeça é necessário ter o tronco, e para ter dedos é necessário ter as mãos e braços ligados ao corpo no tronco.

A ideia de “espíritos” e/ou “almas” tendo corpos humanos é contraditória dentro da própria crença da “imortalidade da alma” (existem variantes).

Deus construiu o corpo humano no jardim do Éden. Ele o moldou do barro, do pó da terra, conforme o relato de Gênesis 2:7:

Gênesis 2:7 – “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente.

Além do mais, o conceito de “alma” na bíblia difere do conceito grego, onde apresenta a “alma” do ser humano como tendo vida e saindo do corpo do ser humano após a sua morte. Lembrando que, apesar de eu mencionar a crença pagã como exemplo, também me refiro à crença da “imortalidade da alma” aceita e ensinada pela maioria das igrejas cristãs! A final de contas, os povos transmitiram essa crença para o cristianismo corrompido ao longo das eras, e as inúmeras religiões cristãs herdaram-na. No conceito bíblico, o ser humano não recebe uma “alma” na criação ou em seu nascimento, mas ele se torna uma “alma vivente” ao receber o fôlego de vida de Deus.

Após analisarmos esses 5 itens, fica evidente as inúmeras contradições que encontramos quando interpretamos a Parábola do Rico e do Lázaro de forma literal. Não devemos basear a doutrina do “estado dos mortos” nessa parábola, pois ela não oferece fundamentos para uma doutrina e crença bíblica. Se assim o fizermos, estaremos cometendo um grave erro. Devemos estudar o estado dos mortos com base nos claros ensinos das passagens bíblicas sobre esse assunto.

Bom, agora que entendemos que o propósito dessa parábola não foi ensinar sobre o “estado dos mortos“, por qual motivo então Jesus proferiu tal parábola?

O Propósito da Parábola do Rico e do Lázaro

Para entendermos corretamente o propósito dessa parábola, consideremos não somente toda a parábola, mas também os demais ensinamentos dentro do próprio capítulo. Antes do relato dessa parábola, Jesus tratou sobre a fidelidade que devemos ter nas pequenas e grandes coisas. Disse o Mestre:

Lições Ensinada Pela Parábola

Fidelidade

Lucas 16:10-11 – “Quem é fiel no mínimo, também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito. Pois, se nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras?

No verso acima, apesar de o ensinamento ser amplo e não se aplicar somente às riquezas, Jesus menciona como exemplo a infidelidade nas “riquezas injustas” dessa terra. Ele leva a mente de seus ouvintes à se preocuparem em serem fieis nos deveres que devemos ter ao possuirmos riquezas materiais. Ele conclui mencionando que não podemos ter dois senhores, sendo eles Deus e a Mamom (uma referência ao Dinheiro como sendo um deus):

Não Podeis Servis a Dois Senhores

Lucas 16:13 – “Nenhum servo pode servir dois senhores; porque, ou há de odiar um e amar o outro, ou se há de chegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.

Obviamente, Jesus não está condenando a posse de riquezas, mas sim o amor ao dinheiro e a falta de responsabilidade que temos ao possuí-lo diante de Deus e do nosso próximo. Lembre-se de que a Bíblia menciona inúmeras pessoas que foram ricas, possuidoras de grandes bens, e ainda assim Deus as considerou justas. O problema discutido por Jesus não era a posse dos bens materiais, mas o nosso sentimento, apreço e uso deles.

Diante dos ouvintes, também se encontravam outro grupo de pessoas, sendo elas os fariseus. Nessa situação, descrevem-se esse grupo de ouvintes como pessoas “avarentas“, conforme podemos ler no verso abaixo:

Avareza

Lucas 16:14 – “E os fariseus, que eram avarentos, ouviam todas estas coisas, e zombavam dele.

Repare que todo o contexto está relacionado ao amor às riquezas, fidelidade no uso das mesmas, e a postura avarenta que muitos ali estavam vivenciando. Cristo começa a narrar a parábola do Rico e do Lázaro poucos versos após essa apresentação, e entre os versos 14 e o início da parábola no verso 19, ele apresenta a avareza dos fariseus, além de algumas questões sobre a Lei (ainda que o assunto não seja o mesmo do contexto apresentado).

Advertência ao Povo

A Parábola do Rico e do Lázaro teve como objetivo advertir ao povo justamente sobre o juízo que deveriam receber enquanto estivessem vivendo àquela vida avarenta, a qual possuíam riquezas, mas viviam em prol de si mesmos. Estavam rodeados de pessoas carentes e necessitadas, mas não se importavam com elas. Por mais que os pobres desejassem comer as “migalhas que caíam da mesa” dos ricos, nem isso os ricos compartilhavam com eles.

Na parábola narrada por Jesus, ele cria a hipótese de que Lázaro, o sofredor, fosse ressuscitado para advertir os 5 irmãos do Rico, que viviam da mesma forma. Mas Jesus enfatiza em sua parábola que até a ressurreição de um morto não seria suficiente para mudar o coração e a vida desses 5 irmãos, pois eles tinham os Escritos de Moisés e dos profetas, e mesmo conhecendo o que ali era ensinado, não viviam o que era preciso.

Viviam na Superficialidade da Religião

A Lei (escritos de Moisés) e os profetas eram de conhecimento de todos os judeus. Eles liam em todas as sinagogas aos Sábados. Ainda assim, muitos viviam a superficialidade da religião, e não praticavam a essência dos mandamentos que ali estavam descritos. Os judeus e fariseus avarentos que ali se encontravam, conheciam muito bem os mandamentos que diziam “amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Levítico 19:18), ou “Fazei justiça ao pobre e ao órfão; justificai o aflito e o necessitado” (Salmos 82:3), mas ainda assim não praticavam o que o Senhor lhes tinham ordenado.

Além disso, o Senhor deixou bem claro em sua Parábola que até mesmo a ressurreição de um morto (Lázaro) como advertência àqueles 5 irmãos, não seria o suficiente para crerem. Essa parte da parábola é uma referência ao comportamento que muitos dos judeus e fariseus ali presentes teriam por conta da ressurreição de Jesus. Quando o Mestre ressuscitou, os líderes religiosos não se arrependeram, mas procuraram ocultar o fato da ressurreição de Jesus diante do povo, dizendo que os discípulos dele haviam “roubado” o corpo! O amor às riquezas que àquelas pessoas tinham era tamanha que preferiram negar a salvação (Jesus), do que renunciar tudo o que haviam acumulado de riquezas em vida.

A aplicação dessa parábola ultrapassa às bençãos materiais. Elas também aplicam-se ao orgulho espiritual de Israel e à sua postura diante dos gentios. Mas podemos deixar esse assunto para outro hora.

Conclusão: A Parábola do Rico e do Lázaro? Lucas 16:19-31

Tendo em vista todos os detalhes aprendidos nesse estudo, reforçamos que ninguém deve basear uma doutrina e crença bíblica em conceitos apresentados nas parábolas. As mesmas são histórias alegóricas com a finalidade de transmitir ensinos morais, e não fundamentos para crenças e doutrinas bíblicas. Erroneamente, muitos se baseiam nessa parábola para defenderem a crença da imortalidade da alma, ou seja, vida logo após à morte do copo humano. Mas isso é um erro. A interpretação literal da parábola gera inúmeros problemas e contradições bíblicas. Por esse motivo, não devemos interpretá-la dessa forma, mas devemos somente extrair as lições que o locutor da parábola está tentando transmitir diante do contexto vivenciado e apresentado.

Que Deus abençoe o leitor.

Respostas de 6

  1. E obviamente foi só céu e deixou lá o ladrão da cruz simples assim po porque Deus não morre nunca

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