Introdução
Ao lermos Apocalipse 20, nos deparamos com a profecia sobre um período de mil anos, no qual Deus aprisionará Satanás, e os justos reinarão com Cristo. No entanto, surge a questão: os mil anos de Apocalipse 20 – literais ou não? Seria esse um período cronológico exato ou um tempo simbólico dentro da linguagem profética? Para responder a essa pergunta, precisamos analisar o contexto bíblico, comparar com outras passagens e entender como a profecia trata a contagem do tempo. Ao longo deste estudo, investigaremos os fundamentos dessa profecia e como interpretá-la corretamente.
Os Mil Anos Antes da Volta de Jesus
A Bíblia apresenta um período de mil anos que ocorrerá após o retorno de Jesus a este mundo. O relato desses mil anos estão escritos em alguns versos do capítulo 20 de Apocalipse. Uma das descrições que encontramos sobre esse período é que satanás ficará aprisionado durante esse tempo:
Apocalipse 20:2 – “Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e amarrou-o por mil anos“
Outro relato do mesmo capítulo é que os justos receberão poder para julgar e reinarão com Cristo durante mil anos:
Apocalipse 20:4 – “E vi tronos; e assentaram-se sobre eles, e foi-lhes dado o poder de julgar, … e viveram, e reinaram com Cristo durante mil anos“
Literal ou Não?!
Apesar do texto bíblico ser bem claro de que serão mil anos, algumas pessoas têm questionado o fato desses textos serem ou não literais. Alguns interpretam esse período do milênio de forma não literal, ou seja, consideram que não são exatamente mil anos, mas um tempo que pode ser maior ou menor do que o indicado. Tais pessoas justificam esse pensamento com base no fato de tal descrição estar dentro de um contexto profético, alterando assim a maneira de se compreender o período declarado.
A justificava que apresentam é verdadeira. Realmente a descrição dos mil anos se encontra dentro de um contexto profético. Apesar de Deus ter revelado essa profecia, esse fato não justifica a ideia de que devemos entender esse período de forma não literal. Pensar assim nada mais é do que criar uma interpretação própria e tomá-la como verdade.
Profecias de Tempo Literais e Simbólicas
Em outras situações, o Senhor Deus revelou períodos proféticos ao Seu povo que não deveriam ser entendidos de forma literal. Podemos citar como exemplo, os 3 tempos e meio de Daniel 7 que equivalem a 1260 anos, ou as 70 semanas de Daniel 9 que são 490 anos. Por outro lado, não devemos esquecer que houve ocasiões em que o Senhor também anunciou profecias de tempo literais, como os 400 anos a Abraão, ou os 70 anos de cativeiro de Babilônia.
É Preciso Analisar o Contexto
Os períodos de tempo profético que Deus anuncia ao Seu povo, podem ser tanto literais ou não, e tudo isso depende do contexto e de uma análise mais cuidadosa ao que se refere. Em nenhuma parte da Bíblia encontramos períodos de tempos que não se referem a um tempo fixo. Quando um período profético não deve ser interpretado literalmente, precisamos convertê-lo para outro período, seguindo alguma regra de transformação do tempo bíblico, o que determina uma duração fixa.
Por exemplo, como mencionei, temos o período dos 3 tempos e meio de Daniel 7:25. O que são esses 3 tempos e meio? O próprio Senhor nos responde em Sua Palavra. A palavra “tempo” pode se referir ao período de um ano, conforme podemos ler em Daniel 11:13. Logo, dizer 3 tempos e meio é o mesmo que dizer 3 anos e meio. Daniel 7:25 menciona um período de três anos e meio, mas esse tempo não é literal (por questões de brevidade, isso não será abordado neste artigo), e, por isso, devemos aplicar a regra de conversão de anos proféticos.
Um “Tempo” Simboliza 1260 anos
Números 14:34 e Ezequiel 4:6 ensinam que devemos compreender um dia como equivalente a um ano. Então, temos que transformar a quantidade de dias dos 3 anos e meio por anos, ou seja, 360 x 3,5 = 1260 dias, ou 1260 anos.
Perceba que, no raciocínio acima, o período de três anos e meio não deve ser interpretado de forma literal. Apesar disso, ele se referia a um período de tempo fixo. Para encontrarmos esse período tivemos que realizar um cálculo dentro da regras apresentadas pela própria Bíblia. O resultado final não foi um período de tempo indefinido, mas pelo contrário, um período claro de 1260 anos.
Problemas da Interpretação Não Literal do Milênio
Aqueles que interpretam os mil anos como não sendo literais, caem no erro de deixar o tempo profético como sendo indefinido, e o pior de tudo, fazem isso sem terem qualquer base bíblica! Se não existe uma razão para convertermos esse período de mil anos para outro período de tempo, então não devemos fazê-lo. Devemos compreender o texto de forma literal!
Comparando com Os 7 Dias da Criação
Além da análise demonstrada acima, temos outra forma de concluirmos que os mil anos serão literais. Vejamos os seguintes textos bíblicos:
Êxodo 20:8-11 – “Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou“
Perceba que o quarto mandamento da lei de Deus descreve que o Senhor criou o nosso mundo em 6 dias literais e descansou no sétimo dia. Conforme o relato bíblico, o Senhor abençoou e santificou esse dia desde a época da Criação (Gênesis 2:1-3). Temos aqui um período de 6 dias literais seguidos por um dia de descanso.
Os 7 Anos de Descanso da Terra
Leiamos o próximo texto bíblico:
Levítico 25:1-4 – “Falou mais o SENHOR a Moisés no monte Sinai, dizendo: Fala aos filhos de Israel, e dize-lhes: Quando tiverdes entrado na terra, que eu vos dou, então a terra descansará um sábado ao Senhor. Seis anos semearás a tua terra, e seis anos podarás a tua vinha, e colherás os seus frutos; Porém ao sétimo ano haverá sábado de descanso para a terra, um sábado ao Senhor; não semearás o teu campo nem podarás a tua vinha“
Aqui encontramos um mandamento que o Senhor deixou ao povo de Israel. Assim que eles tomassem posse da terra que o Senhor os daria, eles poderiam trabalhar na terra apenas 6 anos, e no sétimo ano deixariam a terra descansar. Não deveriam trabalhar na terra durante o sétimo ano, isto é, realizar qualquer tipo de plantio ou colheita. Temos aqui também um período de 6 anos literais seguido de um ano literal de descanso. Essa simbologia nos ajudará a entender os mil anos.
Os 7 Períodos Acima Foram 7 Períodos Literais
Perceba que nos dois relatos bíblicos, o Senhor Deus determinou períodos de 7 tempos literais. No primeiro caso, foram 7 dias, já no segundo, 7 anos. Isso nos mostra que Deus trabalha com períodos de tempos definidos. Além de que, há um ciclo dentro desse período definido por Ele, sendo esse ciclo de 7 tempos. Essa análise fornece mais uma evidência de que o milênio, durante o qual Satanás ficará preso e os justos reinarão com Cristo, também representa um período sabático, ou seja, de descanso. Para Deus, há um dia, um ano e um milênio sabático. O Senhor definiu todos esses períodos de tempo de forma literal. Assim como o dia e o ano sabático são períodos literais, o milênio também será.
Conclusão: O Milênio (Os Mil Anos)
Portanto, concluímos que os mil anos relatados em Apocalipse 20 representam um período bem definido e não algo indefinido ou simbólico. São literalmente mil anos que o texto profético nos anuncia. Embora essa seja uma profecia, devemos entendê-la de forma literal, e não simbólica.
Que Deus abençoe ao leitor.