Introdução
No artigo “O Surgimento da Iniquidade! Quem foi Satanás? – Ezequiel 28“, explorarei a origem de Satanás e os eventos que marcaram sua queda do céu. Investigarei a natureza desse ser que, apesar de ser considerado um anjo perfeito, se entregou ao orgulho e à rebelião. Ao longo do texto, analisarei passagens bíblicas, como Ezequiel 28, Isaías 14 e Apocalipse 12, para compreender como a iniquidade tomou conta do coração desse ser angelical. Além disso, discutirei as interpretações que cercam sua identidade e o impacto de sua rebelião na história espiritual da humanidade.
Um Pouco Sobre Satanás
A existência de um ser sobrenatural, conhecido por “satanás” ou o “diabo“, é para muitos uma lenda, ou até mesmo uma crendice popular. Para outros, é tão real que chegam a prestar-lhe culto de adoração.
A Bíblia menciona a sua existência, sendo considerada Sagrada pelos cristãos. Ele também aparece na religião judaica, embora sua interpretação seja diferente da que os cristãos compreendem. O Corão apresenta uma figura semelhante, conhecida como “Iblis”.
Durante a Idade Média, criou-se uma imagem à respeito de satanás. A imagem que surge é a de um ser demoníaco avermelhado, com chifres e cauda comprida, segurando um tridente em uma das mãos, reinando em um submundo em chamas chamado “inferno“. Essa foi uma das imagens criadas e transmitidas por muitos durante esse período, e que infelizmente ainda ganha lugar na mente de muitas pessoas. O pior de tudo é quando associam essa imagem a uma crença bíblica pertencente à religião cristã. No estudo de hoje, analisaremos alguns textos da Bíblia referente a este tema. Buscarei identificar quem foi e quem é esse personagem descrito na Bíblia.
Ao contrário do Corão que identifica esse ser com o nome de “Iblis”, a Bíblia não informa qual é o seu verdadeiro nome. Ele é identificado apenas como “diabo” e “satanás“. Ambas as palavras não são um nome próprio que identifica esse ser. Do original hebraico, a palavra “satã” simplesmente significa “inimigo” e “adversário“. Esses termos podem ser usados para qualquer pessoa ou grupo que se identifica como “inimigo” de alguém.
O Nome: Lúcifer
Muitos cristãos também aplicam o nome próprio “Lúcifer” a esse personagem. Porém, cabe a observação que tal nome não é de origem bíblica, ainda que uma das traduções bíblicas apresente esse nome em um único versículo bíblico (Isaías 14:12). Tal nome não aparece nos manuscritos mais antigos e foi acrescentado posteriormente em futuras versões bíblicas pelos conhecidos “pais da igreja”. A origem do nome “Lúcifer” tem sua etimologia na língua Latina, e não nas línguas originais em que a Bíblia foi escrita (hebraico, aramaico e grego).
O Paralelismo do Rei de Tiro
Tendo em vista essas informações, passemos a analisar alguns versos bíblicos sobre a sua pessoa. Um texto bastante conhecido e aplicado sobre satanás é o texto do profeta Ezequiel 28:11-17. Leiamos:
Ezequiel 28:11-17 – “Veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: Filho do homem, levanta uma lamentação contra o rei de Tiro e dize-lhe: Assim diz o Senhor Deus: Tu és o sinete da perfeição, cheio de sabedoria e formosura. Estavas no Éden, jardim de Deus; de todas as pedras preciosas te cobrias: o sárdio, o topázio, o diamante, o berilo, o ônix, o jaspe, a safira, o carbúnculo e a esmeralda; de ouro se te fizeram os engastes e os ornamentos; no dia em que foste criado, foram eles preparados. Tu eras querubim da guarda ungido, e te estabeleci; permanecias no monte santo de Deus, no brilho das pedras andavas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado até que se achou iniquidade em ti. Na multiplicação do teu comércio, se encheu o teu interior de violência, e pecaste; pelo que te lançarei, profanado, fora do monte de Deus e te farei perecer, ó querubim da guarda, em meio ao brilho das pedras. Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; lancei-te por terra, diante dos reis te pus, para que te contemplem“
O leitor deve ter percebido que o texto acima se dirige ao “rei de Tiro“. Não é um texto explícito sobre a pessoa de satanás. Porém, as características presentes nesse texto também não são 100% aplicáveis ao próprio rei de Tiro. Isso ocorre porque a mensagem foi inspirada por Deus. Dentro da mensagem proferida ao rei de Tiro pelo profeta Ezequiel, a mesma mensagem também irá conter explicações sobre outros acontecimentos em paralelo.
Em outras palavras, a mensagem dada é duplamente aplicável em situações diferentes. Esse padrão de interpretação está presente em diversos textos bíblicos. Essa duplicidade de informações acaba gerando muita polêmica no meio religioso, principalmente no debate de assuntos entre cristãos e judeus. No entanto, a interpretação profética e a inspiração divina serão estudadas em outra oportunidade. Por enquanto, gostaria que o leitor considerasse tal metodologia como base para esse estudo.
Analisando o Texto
Vamos extrair algumas informações importantes que lemos do texto acima:
- “Tiro” foi considerado o “sinete da perfeição, cheio de sabedoria e formosura“
- É dito que estava presentes no “Éden, jardim de Deus“
- Suas vestes continha uma variedade “de todas as pedras preciosas” (9 no total), e no “brilho das pedras andavas“
- Possuía “ornamentos” de “ouro“
- Fora “criado“
- Ele era “querubim da guarda ungido“
- Permanecia “no monte santo de Deus“
- Ele era “Perfeito” desde a sua criação até o dia em que “se achou iniquidade” em seu coração
- Multiplicou o seu “comércio“, e o seu interior se encheu de “violência“. Por conta disso “pecaste“
- Fora lançado para “fora do monte de Deus“
- Por causa da sua esplêndida “formosura” e “resplendor“, “Elevou-se o teu coração“, e a sua “sabedoria” foste corrompida
- Foi colocado “diante dos reis” para que fostes contemplado
Há muitas informações acima que não se aplicam unicamente ao “rei de Tiro“. Pois um ser humano, idólatra e pagão como era o “rei de Tiro“, nunca poderia ser considerado “Perfeito“. Ele não foi criado, e muito menos esteve no “Éden, jardim de Deus“, o qual Deus criou e destruiu com o dilúvio. Chamaram-no de “querubim“, uma espécie e classificação de seres angelicais. Nunca esteve no “monte santo de Deus“.
Tais descrições só podem se referir a outro ser, mesmo que alguém tenha dito essas palavras ao rei de Tiro. Certamente, essas palavras aplicaram-se e fizeram analogia ao rei de Tiro, mas não se podem compreender ao pé da letra. Diante de tais detalhes, interpreta-se que a inspiração divina também se referiu a esse outro ser, que possuía uma natureza angelical, pois o identificaram como sendo um “querubim“.
Querubim: Seres Angelicais
Seres de Natureza Espiritual
A Bíblia relata que Deus criou o ser humano do pó da terra (Gênesis 2:7). A natureza física do ser humano é o barro. Somos criaturas de “carne“. As Escrituras mencionam outros grupos de seres que Deus criou e que possuem uma natureza diferente da nossa. Deus os chama de “anjos“, “serafins” e “querubins“, e suas naturezas são espirituais:
Anjos:
Hebreus 1:7 – “E, quanto aos anjos, diz: Faz dos seus anjos espíritos, E de seus ministros labareda de fogo“
Hebreus 1:14 – “Não são porventura todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação?“
Serafins:
Isaías 6:2 – “Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas; com duas cobriam os seus rostos, e com duas cobriam os seus pés, e com duas voavam“
Querubins:
Ezequiel 10:7 – “Então estendeu um querubim a sua mão dentre os querubins para o fogo que estava entre os querubins; e tomou dele, e o pôs nas mãos do que estava vestido de linho; o qual o tomou, e saiu“
A Criação do Senhor é Vasta!
A criação de Deus é ampla e muito variada. Em nosso mundo podemos contemplar essa diversidade. Há uma grande diversidade de plantas e animais criados, cada um conforme à sua espécie. Da mesma forma acontece com os seres de natureza espiritual.
Deus é organizado na sua criação. Ele possui leis as quais estabelecem como tudo deve ser. Em seu governo, Ele também classifica uma certa hierarquia e responsabilidade para cada um de seus seres criados. Há seres celestiais que estão mais próximos de Deus, e outros que atuam em tarefas específicas.
Lições do Santuário Terrestre
A Arca da Aliança
Na construção do Santuário Terrestre, o Senhor passou à Moisés o modelo de como todo o Santuário, suas mobílias e utensílios deveriam ser criados (Êxodo 25:8-9, 40). Dentre todas as mobílias, a “Arca da Aliança” era a mais importante. O Santuário deveria ser dividido em 3 partes, sendo elas o Pátio, o lugar Santo, e o lugar Santíssimo. A “Arca da Aliança” deveria ser colocada justamente no lugar Santíssimo do Santuário Terrestre. Em tal lugar, Deus se manifestava uma vez ao ano, no dia do Juízo, ou conhecido também como “Yom Kippur“. Essa manifestação era chamada de “Shekinah” e ela representava a presença de Deus. Ela ocorria em cima da “Arca da Aliança“, em uma peça chamada de “propiciatório“. Sobre essa peça, é feita a seguinte descrição:
Êxodo 37:8 – “Um querubim na extremidade de um lado, e o outro na outra extremidade do outro lado; de uma só peça com o propiciatório fez os querubins nas duas extremidades dele“
Os Querubins em Cima da Arca da Aliança
Segundo as instruções de Deus dadas à Moisés, o propiciatório deveria possuir 2 querubins, um em cada uma de suas extremidades. A construção desses querubins possuía um significado simbólico muito importante, assim como toda a construção do Santuário Terrestre e os Rituais praticados ao decorrer de todo o ano. Os querubins estavam em posição de reverência, e ambos voltados para o centro do propiciatório, local onde Deus se manifestava uma vez ao ano. Além do mais, dentro da “Arca da Aliança” estavam guardados 3 coisas, sendo elas a “Lei de Deus” em duas tábuas de pedras, o maná, e a vara de Arão.
É possível que esses 2 querubins sejam símbolos dos querubins que cercam e atuam diretamente com Deus no céu, próximo ao Seu trono. No capítulo 6 do livro de Isaías encontramos os Serafins ao redor do trono de Deus. Já ao decorrer do livro de Ezequiel e em Apocalipse 4, encontramos a atuação de outros querubins também ao redor do trono. De qualquer forma, a simbologia encontrada no propiciatório nos indica a existência de pelo menos 2 seres atuando mais próximos de Deus.
O Surgimento da Iniquidade
O Guarda Ungido
O texto de Ezequiel 28 que lemos anteriormente, mencionou o “querubim” como tendo um cargo específico. Ele foi chamado de “querubim da guarda ungido“. Não era qualquer querubim, mas sim aquele que era responsável pela “guarda ungido“. Havia algo o qual era responsável, o qual o diferenciava de todos os demais. Certamente, o “querubim” mencionado em Ezequiel 28 está relacionado com o cargo e posição de um dos querubins simbolizados em cima do propiciatório.
Além de toda a glória que ele possuía, tendo sido considerado como o “sinete da perfeição, cheio de sabedoria e formosura“, possuindo uma variedade “de todas as pedras preciosas” em suas vestes, esse querubim estava em contato direto com o Deus Todo Poderoso. Apesar de ter sido criado “perfeito“, em um dado momento a “iniquidade” surgiu em seu coração.
Serei Semelhante ao Altíssimo
O texto de Ezequiel 28 não entra nos detalhes sobre a “iniquidade” de seu coração. Sobre isso, encontramos uma informação em outro texto:
Isaías 14:12-14 – “Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações! Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do norte; subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo“
A ideia sobre a inspiração profética aplicada sobre o rei de Tiro em Ezequiel 28, também pode ser aplicada sobre a mensagem dada ao rei de Babilônia presente na passagem de Isaías 14:12-14. Apesar da mensagem desses versos terem sido proferidas ao rei de Babilônia, encontramos algumas características que não se aplicam exclusivamente ao rei. Portanto, podemos entendê-la como tendo duplo significado.
A Estrela da Manhã
Sobre a “estrela da manhã, filho da alva“, foi dito que “caíste do céu” e “foste lançado por terra“. O texto de Ezequiel também tinha comentado algo semelhante: “lancei-te por terra” (Ezequiel 28:17). Tudo indica que a duplicidade da interpretação esteja sendo aplicada ao mesmo ser. Analisando o texto de Isaías, podemos extrair as seguintes informações, assim como fizemos anteriormente:
- É identificado como sendo “estrela da manhã, filho da alva“
- Ela caiu “do céu” e foi “lançado por terra“
- Foi responsável por debilitar “as nações“
- Tinha por desejo em seu coração subir “ao céu; acima das estrelas de Deus” para exaltar seu “trono“
- Ele se assentaria no “monte da congregação“
- Subiria acima das “mais altas nuvens“
- Se tornaria “semelhante ao Altíssimo“
No texto de Ezequiel, o querubim permanecia “no monte santo de Deus“, mas tinha sido expulso e lançado para fora do “monte de Deus“. Já no texto de Isaías, esse ser desejava estabelecer o seu “trono” no “monte da congregação“, acima das “estrelas de Deus“, e se tornar “semelhante ao Altíssimo“! Aqui vale uma observação.
O Significado de Estrelas
A palavra “estrelas” na Bíblia, quando escrita dentro de um contexto profético, possui o significado de “anjos“, conforme apresentado a seguir:
Apocalipse 1:20 – “O mistério das sete estrelas, que viste na minha destra, e dos sete castiçais de ouro. As sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete castiçais, que viste, são as sete igrejas“
Diante dessas descrições, podemos encontrar a causa do surgimento da “iniquidade” no coração desse querubim. Pelo que tudo indica, o orgulho surgiu em seu coração, e desejou reinar no trono de Deus, sendo “semelhante ao Altíssimo“. Queria governar sobre todos os anjos criados por Deus! Esse querubim, não se contentou com a posição que possuía. Ele já se encontrava com grandes privilégios, pois era o “querubim da guarda ungido“. Ao contrário de muitos outros, ele estava ao lado de Deus e o atendia pessoalmente. Mas permitiu que esse desejo lhe tomasse o coração, e foi avante com seus planos para tentar conseguir o que desejava.
O Início de uma Rebelião
No livro do Apocalipse, o apóstolo João descreve uma visão que recebeu de Deus. Ela apresenta uma guerra no céu entre dois grupos de seres celestiais. Leiamos:
Apocalipse 12:7-9- “E houve batalha no céu; Miguel e os seus anjos batalhavam contra o dragão, e batalhavam o dragão e os seus anjos; Mas não prevaleceram, nem mais o seu lugar se achou nos céus. E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo, e Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele“
Na visão de João, ele viu uma batalha acontecendo no céu. Não iremos analisar em que tempo essa batalha ocorreu, porém, consideraremos somente o conteúdo do verso lido acima. Haviam dois grupos. De um lado, estava “Miguel e os seus anjos“, e do outro lado “o dragão e os seus anjos“. É dito que esse último grupo não prevaleceu mais no céu, e eles foram precipitados para a terra. O “dragão” visto na visão é simbólico, e conforme o texto mesmo explica, ele simboliza “o Diabo, e Satanás“. Juntamente com satanás, foram expulsos outros anjos do céu. Então, o segundo grupo que fora expulso do céu era constituído por satanás como líder e muitos outros anjos que o acompanharam nessa batalha.
Perceba que nesse texto é descrito que ele foi “precipitado na terra” e que “nem mais o seu lugar se achou nos céus“, assim como também “os seus anjos foram lançados com ele“. A linguagem descrita aqui é semelhante ao que lemos de Ezequiel 28 e Isaías 14. O que tudo indica é que “satanás” é o mesmo “querubim” de Ezequiel 28.
Quem era satanás?
Ao contrário do que muitos pensam, satanás não é um ser com chifres, uma longa cauda e um tridente na mão. Ele era um ser angelical, grande em sabedoria, e que esteve ao lado de Deus por muito tempo. Fora criado perfeito por Deus, e recebestes grandes privilégios no céu. Da mesma forma, todos os demais anjos que o seguiram nessa rebelião que causou, são identificados na Bíblia como sendo “demônios“. Obviamente, não são seres mitológicos com chifres também! Essa imagem foi criada para distorcer a realidade bíblica do que é ensinado sobre eles. Os demônios foram outrora anjos celestiais. Eram também criaturas perfeitas de Deus, mas foram enganados por um querubim que desejou se assentar no trono de Deus. Satanás e os seus demônios são seres espirituais, e foram expulsos do céu e habitam em nossa terra. Possuem uma natureza física diferente da nossa, pois são seres espirituais.
Até o momento desse estudo, não analisamos qual foi a estratégia utilizada por esse querubim para tentar ocupar o trono de Deus. Mas uma coisa é fato, ele conseguiu causar uma grande rebelião no céu, e conseguiu enganar muitos anjos para que ficassem ao seu lado contra Deus. Apesar de seu desejo em tomar o trono de Deus, ele não conseguiu executá-lo no céu, e foi expulso para a terra.
No próximo estudo, analisaremos a estratégia usada para ter causado essa rebelião, bem como o envolvimento do nosso planeta nessa guerra que se originou no céu.
Continue esse tema com o próximo estudo:
Que Deus nos abençoe!